O surgimento do circo no Brasil se deu por volta do fim do século XVIII e início do século XIX com a vinda de famílias circenses da Europa, essas famílias organizavam suas práticas artísticas pela transmissão oral do saber, passada de geração a geração.
Nossa produção de circo teve ligação com outro grupo, as famílias ciganas, vindas também da Europa, que se utilizavam de técnicas de ilusionismo e a doma dos cavalos. Os grupos circenses brasileiros viajavam de cidade em cidade e, a partir da popularidade dos espetáculos, adaptavam sua obra ao que mais fizesse sucesso de público.
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Se a tradição era passada de geração a geração, não tendo envolvimento com a educação formal, quando podemos pensar no deslocamento deste saber para fora e além da família? Quando teremos escolas destinadas ao aprendizado de práticas circenses no Brasil?
Uma das primeiras escolas de circo no Brasil foi a Escola Nacional de Circo, fundada em 13 de maio de 1982, na Praça da Bandeira n°4, no Rio de Janeiro. O projeto deste espaço foi idealizado alguns anos antes por meio de uma reunião entre Orlando Miranda, Luiz Olimecha, Roberto Parreira e Rui Bartholo e os arquitetos Marcos Flaksman e Carlos Pini. Dessa forma, em 1977 foi concretizada a ideia de um espaço dedicado ao ensino das artes circenses.
A infraestrutura da escola foi projetada para lotação máxima de 4 mil espectadores em uma área total de 7 mil metros quadrados, a parte técnica oferecia três canhões de luz, quatro mastros com cinco refletores cada, mesa de luz, além de espaços como lanchonete, sala de aula e espaço recreativo. A festa de inauguração da Escola Nacional de Circo contou com apresentações, comes e bebes, e claro, discurso!
A fala apresentada destacou a importância de associar a prática artística à educação e chamou a atenção para a necessidade de investimentos tanto do poder público quanto do privado para o desenvolvimento da arte circense.
O primeiro edital de chamamento de alunos e alunas foi disponibilizado logo na primeira semana de maio de 1982 e ofereceu 60 vagas gratuitas para jovens entre 7 a 17 anos para o módulo de iniciação ao circo, ou seja, os primeiros contatos com a prática artística e seus conhecimentos.
Ao mesmo tempo, outros dois cursos foram lançados, desta vez voltados para bailarinos e atores que desejavam aprender técnicas de circo. Em 1990, quando Fernando Collor de Mello se tornou Presidente da República e instaurou reformas administrativas, as manutenções da escola acabaram ficando de lado, a lona apodreceu e a escola fechou.
Porém, em agosto de 1991, houve a reabertura e quem tomou a linha de frente da direção foi a educadora Omar Elliot Pint, profissional que já havia participado do processo de fundação da escola. É significativo lembrar que desde 2015 a Escola Nacional tem um curso técnico em artes circenses reconhecido pelo MEC com carga horária de 2.798 horas-aula, distribuídas em 4 semestres letivos.
O ano de 2020 não foi apenas marcado pela pandemia da COVID 19, outras adversidades surgiram. A escola enfrentou dificuldades que se deram devido ao ciclone-bomba que atingiu o Rio de Janeiro no mês de julho e provocou ventos fortes, chuva, queda de árvore e ressaca do mar, o que comprometeu sua estrutura.
Para a segurança de todos será necessário realizar reparos com o intuito de poder abrigar novamente as atividades de formação circense realizadas no espaço. A Fundação Nacional de Artes (Funarte) anunciou que pretende revitalizar e aperfeiçoar a Escola Nacional de Circo Luiz Olimecha, começando agora em 2021, com trocar a lona, além da abertura de novas parcerias que incrementem as atividades já desempenhadas no local.
Espaços educativos e espaços de partilha
Todo esse histórico descrito aqui tem a finalidade de entender como a produção cultural em circo se estrutura a partir de dois pilares principais: o da educação e o da partilha.
A existência de espaços que garantam o acesso e aprendizagem de determinada prática artística e os eventos que propiciem diálogos e intercâmbios na área, ambos pilares são importantes para fomentar reflexões sobre como fazer a cultura acessar mais pessoas e lugares.
Neste aspecto de ações que possam gerar compartilhamento e democratização da arte, iremos descobrir mais sobre o FIC (Festival Internacional de Circo) que ocorre desde 2018. Uma curiosidade sobre este festival é que seu o primeiro slogan foi “O circo veio para ficar!” reiterando a força das organizações circenses e da cultura como um dos motores da sociedade.
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No ano passado [2020] tivemos uma edição especial entre novembro e dezembro, sendo híbrida, ou seja, as apresentações se deram em parte de forma presencial – respeitando os protocolos de saúde – e em parte, de maneira virtual. Interessante notar que desta vez, o FIC, juntamente com as apresentações, consolidou a abertura da Praça de Circo São Paulo, sendo o primeiro espaço público permanente disponível para lonas itinerantes e demais atividades circenses da cidade.
Na programação tivemos espetáculos de palhaçaria/comicidade, espetáculos de circo tradicional e espetáculos de circo contemporâneo, totalizando 50 apresentações durante todo o festival. Ocorreram também números de palhaçaria/comicidade, números de circo tradicional e números de circo contemporâneo, sendo estes calculados em mais de 60 números.
O que difere um número de um espetáculo é que o número é uma sequência curta de movimentos e/ou truques executados pelo artista, pode ter ou não aparelhos e pode ser solo ou em grupo. Já o espetáculo tem maior duração e apresenta mais conflitos, sequências, narrativas, etc. Além dessas apresentações, foram feitas rodas de conversa, oficinas e um documentário relatando essa experiência do festival neste atípico ano.
Percebemos que mesmo em meio a muitas dificuldades e impeditivos trazidos pela realidade da pandemia da COVID 19, graças a grande mobilização dos artistas, dos produtores e agentes culturais foi possível organizar um evento que mantivesse o brilho do circo e se estruturasse de forma condizente com o momento que estamos vivendo.
Concluindo, é essencial que estejamos em comunicação, criando redes de relacionamento e nos posicionando artisticamente nas redes sociais e na realidade do nosso cotidiano na vida. Gostaríamos de frisar como essas ações devem ser cada vez mais enaltecidas e fomentadas, e, por isso, mal podemos esperar pela edição de 2021!
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