O sistema da arte contemporânea é uma cadeia produtiva que visa a produção, a promoção, a mercantilização, a consagração, valorização e a preservação de obras de artistas visuais.

Segundo o ‘Guia do Artista Visual: Inserção e Internacionalização’, este conjunto  apresenta quatro instâncias principais interdependentes: a produção artística, a reflexão crítica, a institucional e o mercado. Diversos agentes estão envolvidos nestas instâncias e trabalhando em cooperação e equilíbrio.

Abaixo vamos abordar mais detalhadamente os principais agentes do sistema da arte atual, e seu funcionamento.

Principais agentes do sistema da arte

O artista pode ser considerado a parte central e basilar do conjunto, porém, sem outros agentes facilitadores, a divulgação, a comercialização e a consagração de sua criação dificilmente ocorrem.

Por isso, afirma-se que o sistema da arte é uma cadeia interdependente de agentes, dos quais falaremos conforme a divisão das quatro instâncias deste complexo, ainda que vários agentes se enquadrem em mais de uma categoria.

Produção Artística

  • Artista: considerada a figura principal do sistema, o artista cria a arte e de acordo com sua produção ele pode afetar a forma como os outros agentes atuam;
  • Coletivos: ainda que contem com uma identidade criativa única, é comum que sejam constituídos por artistas de diferentes formações, os quais paralelamente têm suas produções individuais;

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Reflexão Crítica

Na reflexão crítica podemos enquadrar a Academia, os curadores, os críticos de arte, e, secundariamente, as mostras, as bienais, os museus, as instituições e as galerias.

  • Curadores de arte: essa profissão iniciou nos museus, através do cargo de conservadores do acervo, responsáveis por preservar, analisar e expor as obras. A curadoria como é exercida atualmente, onde o curador exerce o papel de criador da mostra nos mínimos detalhes, surgiu a partir da década de 1960, sendo um dos pioneiros o historiador suíço Harald Szeemann. Uma de suas exposições mais famosas foi em Kunsthalle Bern, na Suíça, em 1969, e se chamou “Live in Your Head. When Attitudes Become Form: Works-Concepts-Processes-Situations-Information”. Esse evento reuniu artistas emergentes de diversos países, incluindo Marcel Duchamp, e cujos trabalhos ainda não estavam classificados dentro de nenhum movimento artístico, e, posteriormente, viriam a originar a Arte Povera, Land Art, Pós-minimalismo e Arte Conceitual;
  • Críticos de arte: no século XIX, a crítica de arte assumiu o papel de legitimadora da carreira de artistas, o qual era antes ocupado pelas Academias. A crítica alcançou seu ápice no século XX, devido ao crescimento do mercado editorial, porém, nas últimas décadas, em parte pelo  surgimento da figura do curador, esse agente tem perdido espaço e relevância na legitimação da arte, e, por isso, exercido mais uma função de agenda cultural na imprensa;

Institucional

exibição galeria de arte

A instância institucional é a mais importante do ponto de vista informativo e educativo, visto que é através dela que o público tem contato com a obra. Ela inclui espaços independentes, produtores culturais, museus, instituições, salões, mostras e bienais.

  • Espaços independentes ou autônomos: são iniciativas sem fins lucrativos administradas por artistas, curadores ou gestores culturais. Devido a seu caráter independente, permite aos artistas experimentar e trocar conhecimentos, de modo que muitas inovações na arte ocorrem ali. Além disso, esses locais realizam a exibição de produções, portanto são muito importantes na formação de público;
  • Produtores culturais: são profissionais que elaboram e executam projetos culturais, cujos formatos podem ir desde exposições, até mostras e festivais. Sua principal função é elaborar, idealizar, captar recursos e viabilizar parcerias para projetos;
  • Museus e instituições: atuam na preservação, pesquisa e exibição das obras. São os mais importantes agentes de acesso do público à arte devido aos seus setores educativos. Eles podem ser públicos, sendo administrados pelo governo municipal, estadual ou federal, público-privados, ou privados, da onde as obras provém de um ou mais colecionadores;
  • Salões de arte: são grandes exposições que ocorrem de modo esporádico, como uma vez por ano ou a cada dois anos. Ainda que sua origem tenha sido paralela a das Academias de Belas-Artes, os salões marcaram a primeira vez que o público em geral, sem ligações acadêmicas ou grande familiarização com obras de arte, teve acesso a arte;
  • Mostras e Bienais: seu sucesso depende muito da crítica, dos artistas participantes e dos colecionadores que estes eventos atraem, de modo que seu status de relevância para o mundo da arte pode mudar de tempos em tempos. As mais importantes são, atualmente, a Bienal de Veneza e a Documenta de Kassel. O Brasil apresenta a segunda mais antiga do mundo, criada em 1951: a Bienal de São Paulo. Esse evento chama atenção por estar fora dos maiores centros de poder do mundo e, por isso, de dois em dois anos atrai muitos nomes importantes no mundo da arte para a América do Sul.

Mercado

Os mercados de arte podem ser divididos em primário, o qual vende a obra recém-produzida para colecionadores e é constituído por galerias, coletivos e associações, e secundário, que revende obras que já foram comercializadas anteriormente.

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Os agentes do mercado secundário são galerias, escritórios de arte, e, principalmente, casas de leilões. O mercado visa, fundamentalmente, a construção do valor econômico da obra.

  • Art dealer/ marchand: classicamente, o marchand é um profissional autônomo que negocia obras de arte, e representa e intermedia a relação dos artistas com o mercado. Ele pode ou não ser associado a uma galeria;
  • Galerias de arte: a maioria faz parte do mercado primário, ainda que possam fazer parte tanto do primário quanto do secundário. Quando no mercado primário, além de comercializar a obra, elas representam o artista e trabalham para seu reconhecimento, então têm uma função institucional. Já as do mercado secundário não têm a representação do artista, ou seja, não apresentam uma função institucional. Além disso elas vendem obras que, em geral, consignam diretamente com um colecionador particular;
  • Casas de leilão: atuam prioritariamente no mercado secundário. Geralmente realizam inspeção rigorosa para avaliar conservação e proveniência da obra e apresentam valor mínimo e máximo estimado para sua venda;
  • Colecionadores: o termo colecionar diz respeito a obter, organizar e expor algum item específico. As coleções de arte podem ser organizadas e compradas de modo despretensioso ou seguir algum aspecto condutor, como tema, região, estética, ou época. O colecionador se diferencia de um simples comprador por causa da aquisição sistemática de obras de arte, e não ocasional. As coleções podem ser privadas ou públicas, sendo as últimas parte de museus ou instituições. Além disso, alguns colecionadores doam suas obras para museus ou montam suas próprias instituições públicas, portanto suas coleções passam de privadas a públicas;
  • Consultores de arte/art advisor: tanto consultores quanto advisors auxiliam colecionadores na decisão da compra, desde a escolha da obra que será adquirida até a achar uma produção de determinado artista. Esses profissionais devem, necessariamente, ter amplo conhecimento do funcionamento do mercado de arte, experiência na área e ampla rede de contatos. Não são associados a nenhuma galeria, porém, enquanto a comissão do consultor é paga pelas galerias, a do art advisor é paga pelo cliente interessado na compra; 
  • Feiras de arte: considerada um encontro comercial de galerias de arte, a primeira feira de arte contemporânea ocorreu em 1967, na Alemanha Ocidental, e atualmente se chama Art Cologne. Com o objetivo de apresentar jovens artistas ao mercado internacional e chamar a atenção de novos compradores, o modelo utilizado nesta feira se assemelha muito ao usado atualmente.

Sabemos que a arte não se resume à estética mas apresenta também uma forte função social, e, porque não, histórica, visto que reflete vários momentos importantes da sociedade.   Portanto, o sistema da arte é extremamente necessário não só para a criação e comercialização de obras de arte, mas também para o desfrute e acesso à cultura da população.

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