Estamos vivendo hoje um momento histórico. Em meio à pandemia do covid-19 tivemos que, primeiramente, como cidadãos deste mundo, nos reinventar. Com o fechamento temporário dos espaços destinados às artes, como as feiras internacionais, exposições, leilões e mostras, as galerias de arte que normalmente participam deste fluxo artístico, também tiveram que, mediante as circunstâncias mundiais, lidar com a sua programação alterada.

Hoje a ArtCult vai destrinchar o papel da galeria de arte no circuito das artes e como as demandas atuais tornaram o cenário propício às novas dinâmicas e contextualizações do mercado da arte.

O papel das galerias de arte no circuito das artes

A arte ocupa um grande espaço nas dinâmicas sociais e as obras produzidas pelos artistas parecem possuir um estado de permanência no tempo, capazes de nos levar aos mais diversos tipos de questionamentos sobre a nossa própria existência no mundo. Seja em caráter cultural, social ou político, o ser humano sempre foi capaz de, através da sua história, transpor as questões existenciais por meio de artifícios sensoriais como a arte.

Aqui no Brasil, o mercado da arte começou por institucionalizar-se nos anos 50, no cenário do Pós-Guerra. No âmbito dos museus, o MASP – Museu de Arte de São Paulo – foi fundado em 1947 e tornou-se o primeiro museu moderno do país. O museu teve importantes protagonistas desde sua fundação, uma iniciativa do mecenas Assis Chateaubriand, que chamou o marchand italiano Pietro Maria Bardi para realizar a direção do museu, além de contar com o projeto arquitetônico realizado pela esposa de Bardi, Lina Bo Bardi. Hoje, o MASP conta com mais de 11 mil obras, além de tornar-se um dos museus mais visitados do país. 

Depois da criação do MASP, o MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo –  teve sua fundação em 1948, com as doações de obras de arte por Francisco Matarazzo (conhecido por Ciccillo Matarazzo Sobrinho) e Yolanda Penteado. Cicillo Matarazzo foi presidente do museu até o ano de 1963. Com mais de 5 mil obras de das artes e ainda realiza exposições temporárias a cada dois anos, mapeando toda produção artística contemporânea. Somamos a isso, a importância do papel das bienais de arte, que assim como os museus, são capazes de difundir as artes, funcionando como equipamentos culturais que tornam mais acessíveis a cultura artística nacional e internacional para a sociedade.

Hoje, com as galerias de arte fechadas por todo o mundo, diversos galeristas tiveram que transformar algumas de suas exposições, que até então eram presenciais, em exposições virtuais, com intuito de fomentar a produção artística e a sua comercialização na esfera digital. Além disso, com as feiras de arte mundiais – que correspondem à 45% de todo o faturamento do mercado da arte – adiadas ou suspensas até segunda ordem, os galeristas têm voltado todos seus esforços para o mercado digital, para manter a comunicação com seu público e mantê-lo informado sobre o circuito das artes, continuar a conexão com os colecionadores e pleitear a conquista de novas audiências.

O mercado primário e o mercado secundário de arte

Para entender melhor sobre o funcionamento do mercado da arte, primeiro precisamos saber como ele se divide e quem são os seus agentes. No mundo das artes, o mercado é classificado em: mercado primário e mercado secundário. Quando falamos em mercado primário, estamos nos referindo à primeira vez que uma obra de arte é colocada à venda e, como geralmente nesse caso, a obra do artista é apresentada por uma galeria, esta passa a representá-lo com intuito de trabalhar a sua carreira, expandir a sua produção artística para alcançar outras exposições e vender suas obras para um colecionador. 

Não se trata somente de receber a obra de arte no atelier e comercializá-la, mas sim, de trabalhar o histórico daquele artista e, consequentemente, gerar ações que levem-o a consolidar a sua carreira e estabelecer uma jornada de peso nesse ecossistema da arte. O intuito dos galeristas é tornar o artista cada vez mais visto dentro do circuito artístico, realizando mostras e exposições, fazendo a conexão entre ele e os museus, as instituições culturais, as feiras e dar todo o suporte para as suas exposições artísticas.

Quando um colecionador de arte está à procura de uma obra para ampliar o seu acervo e comprá-la pela primeira vez por intermédio da galeria de arte, podemos dizer que esta obra adquirida pelo colecionador, transitou pelo mercado primário.

Já no mercado secundário, seus agentes são representados por mais de um colecionador 

e galerias de arte: uma obra de arte negociada no mercado primário, sai de uma coleção para uma venda sucessiva em uma galeria secundária, com o objetivo de entrar em uma nova coleção.

A jornada mais comum quando uma obra transpassa em meio ao mercado de arte pela segunda vez, ocorre quando ela é adquirida através de um leilão de arte. As galerias que revendem obras de arte neste contexto, são chamadas de secundárias e são especializadas em trazer essas obras para a sua galeria para depois vendê-las e colocá-las em novas coleções.

Os leilões de arte possuem características de extrema importância no circuito de arte, por tornar o preço das obras de arte público e, além disso, movimentar a economia da arte de modo significativo. Um dos mais famosos leilões de arte, a casa de leilões Christie’s, este ano teve que se reinventar em meio à pandemia global, mas suas vendas continuaram. Logo no início do ano, a Christie’s vendeu uma obra de arte por 30 milhões de libras  através de um tipo de venda online de forma privada, agindo como uma intermediária entre um comprador e um vendedor de arte que não precisou se expor como faria normalmente em um leilão de arte no ambiente físico. 

O mercado da arte está passando por transformações intensas nos últimos tempos e suas famosas feiras de arte, que faziam circular milhares de pessoas pelo mundo para participarem de seus calendários, neste ano, tiveram que remanejar suas datas e suas atividades. A Bienal de Arquitetura de Veneza com o tema “Como vamos viver juntos?” teve seu calendário adiado para agosto de 2021 e no cenário nacional, a Bienal de Arte deste ano com o tema “Faz Escuro Mas Eu Canto”, 

que teria sua inauguração em 5 de setembro, foi adiada para 3 de outubro. Mas a arte não parou, a produção artística em âmbito mundial continua. E hoje, a arte participa-nos de sua realidade através do mundo virtual, aumentando cada vez mais o seu peso e importância no cotidiano das pessoas que estão em quarentena. A arte resiste através dos artistas e do circuito das artes, não nos deixando esquecer o quanto ela é tão necessária hoje, ontem e será sempre.
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