Elaborada pela revista Art Review, o ranking Power 100 é feito desde 2002 trazendo os agentes mais influentes da arte mundial. A edição deste ano contou pela primeira vez com um coletivo na primeira posição, o Black Lives Matter, o que reflete a influência de movimentos populares em prol da justiça social na arte.
A lista é realizada por um comitê anônimo de profissionais do mundo da arte, o qual analisa a habilidade da pessoa em influenciar a produção atual e em impactar na perspectiva do público sobre a produção artística. Além disso, a pessoa deve estar na ativa nos 12 meses anteriores à publicação da lista, assim como já ter uma influência não só regional, mas internacional.
1ª posição: Black Lives Matter
Criado em 2013 por Alicia Garza, Patrisse Cullors e Opal Tometi, este coletivo de origem americana realiza protestos contra a violência às pessoas negras, principalmente em casos de assassinatos por policiais, discriminação e desigualdade racial.
Ele ganhou forte repercussão midiática internacional após o assassinato de George Floyd em 25 de maio. O homem negro foi asfixiado por um policial em Minneapolis, nos EUA, o que gerou uma onda de manifestações em centenas de cidades reivindicando justiça e colocando em pauta o racismo.
O coletivo nunca havia aparecido no ranking antes, mas obteve relevância no mundo da arte ao questionar não somente estruturas de poder óbvias, mas também veladas, como o racismo estrutural. Com base no princípio de que os valores da sociedade são consagrados pela cultura que ela valoriza, o sistema da arte foi posto no centro de debates sobre identidade, representatividade e reprodução de injustiças.
Em resposta, houve derrubada de estátuas de colonizadores e escravocratas nos EUA e na Europa; questionamentos quanto à ausência de agentes e artistas das minorias em galerias, museus e premiações; expansão do discurso decolonial, inclusive junto a colecionadores; devolução de artefatos a seus países originários; e adiamento da exposição ‘Philip Guston Now’. Além disso, o movimento influenciou diretamente o trabalho de diversos artistas este ano.
2ª a 10ª posição: de coletivos a teóricos
- ruangrupa: sediado na Indonésia e fundado em 2000, este coletivo explora modelos alternativos de produção artística em detrimento dos que valorizam colonialismo, competição e capitalismo. Durante a pandemia, transformaram seu local de trabalho em cozinhas de emergência e começaram a fabricar equipamento de proteção pessoal para a população local. Paralelamente, eles realizam a curadoria da Documenta 15, que ocorrerá em Kassel, Alemanha, em 2022.
- Felwine Sarr e Bénédicte Savoy: a economista e o historiador de arte elaboraram em 2018 um relatório governamental para o presidente francês Emmanuel Macron, no qual uma das propostas era a restituição de objetos de coleções nacionais roubados na época colonial a seus países de origem. Só em outubro deste ano, foi autorizado o retorno de 27 artefatos a Senegal e Benin.
- #MeToo: o movimento ativista internacional que denuncia agressão sexual e assédio se disseminou em 2017 a partir do uso de uma hashtag homônima com denúncias, especialmente no local de trabalho. Em 2020, holofotes foram lançados sobre diversos agentes da arte, como o ex-diretor da Gagosian Sam Orlofsky, o qual recebeu diversas denúncias de assédio.
- Fred Moten: o crítico, poeta e teórico americano apresenta como teoria fundamental uma sociedade descentrada que pode operar nas fissuras presentes da sociedade hierárquica atual. Essa abstração está presente no livro ‘The Undercommons: Fugitive Planning & Black Study’, publicado em 2013, e é usada como base para diversos movimentos, entre eles, Black Lives Matter.
- Arthur Jafa: em meio aos protestos contra o assassinato de George Floyd, o artista e filmmarker americano viu seu vídeo de 2016 ‘Love is the Message, The Message is Death’, o qual reflete alegrias e dores de ser negro nos EUA, ganhar proeminência. Como consequência, 14 museus disponibilizaram simultaneamente o vídeo em seus sites durante um final de semana de junho.
- Glenn D. Lowry: primeiro lugar do ranking em 2019 e diretor do MoMA (Museum of Modern Art). Com o avanço da pandemia, a instituição foi fechada e teve 25% do seu orçamento cortado, o que levou Lowry a usar estratégias como adiar contratações. No final de agosto, apesar de diversas críticas, ele decidiu reabrir o museu, visto que acredita que a missão do MoMA é servir às pessoas e isso é impossível de portas fechadas.
- Thelma Golden: diretora do Studio Museum of Harlem, em Nova York, Thelma renovou o programa cultural e educativo da instituição, e expandiu as instalações. Neste ano foi convidada a se juntar a um grupo de administradores negros de museus para a criação de uma aliança com o objetivo de cultivar novos artistas e agentes da arte negros.
- Saidiya Hartman: a professora de Inglês e Literatura Comparativa na Universidade de Columbia (Nova York) tem trabalhado na expansão do entendimento da tradição negra radical. No MoMA, sua influência na arte foi notada em um programa de performances e leituras, do qual participaram artistas como Arthur Jafa.
- Judith Butler: uma das maiores teóricas de gênero, feminismo e teoria queer do mundo, Judith articulou esse ano o papel de intelectuais e artistas em entrevista para a Truthout | Fearless, Independent News & Analysis , afirmando a necessidade de “expandir nossas ideias sobre porque linguagem, literatura, artes visuais e histórias são importantes para o entendimento de nosso mundo. Esse mundo não pode ser reduzido a ‘a economia’ ou ‘a nação’, e também não pode ser totalmente definido pela pandemia”.
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Algum brasileiro foi contemplado?
Sim, há dois brasileiros no ranking deste ano. Na 89ª posição, estão os sócios e galeristas da Mendes Wood DM , Felipe Dmab, Pedro Mendes e Matthew Wood, sendo os dois primeiros brasileiros.
A galeria conta com nomes como Rosana Paulino, Sonia Gomes e Paulo Nazareth, e tem como premissas o conceitualismo, o rigor intelectual e a resistência política. Fundada em 2010 e com sede em São Paulo, Nova York e Bruxelas, foi muito impactada pela pandemia, e com isso tentou novas estratégias: em agosto abriu uma exposição em uma igreja do século XVII na vila de Retranchement, na Holanda, e, em outubro, em Villa Era, na Itália.
Alguns outros agentes brasileiros já haviam se destacado antes: em 2015, a galerista Luisa Strina, proprietária de galeria homônima em São Paulo, ocupou a 55ª posição; os galeristas da Mendes Wood DM, a 93ª; e Adriano Pedrosa, diretor artístico do Museu de Arte de São Paulo (Masp), a 96ª. Em 2013 Luisa ocupou a 61ª posição, e Bernardo Paz, colecionador e fundador do Museu Mineiro Inhotim, a 80ª.
Confira o ranking Power 100 completo da Art Review.
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