Devido ao cancelamento de feiras de arte, nacionais e internacionais, por conta das restrições sociais impostas pela pandemia de Covid-19, e considerando o fato da compra de obras de arte não ser considerada uma atividade essencial, mas sim uma oportunidade restrita a uma parte da população, previa-se que o ano de 2020 seria difícil para o mercado da arte.
Curiosamente, viu-se que as galerias brasileiras foram em oposição ao esperado: a grande maioria apresentou um desempenho igual ou superior ao de 2019.
Além desta surpresa, vimos a abertura de novas galerias, como o Projeto Vênus em São Paulo, a Index em Brasília e contamos ainda com a expansão internacional da Jaqueline Martins, que abriu um escritório em Bruxelas, Bélgica.
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Dentre os principais fatores que potencializaram o lucro das galerias, destacamos: o aumento da atuação digital, por meio do investimento em marketing digital nas suas redes sociais, a criação de lojas online em seus sites institucionais, e, por último, o crescimento de um novo público de compradores de obras de arte: a geração Y (Millenials) e a parcela mais velha da geração Z.
Desempenho das galerias em 2020
De acordo com uma pesquisa do Projeto Latitude, a maioria das galerias do país lucraram um valor igual ou superior no primeiro e no terceiro semestre de 2020, quando comparado com o mesmo período de 2019.
Isso se deve a uma adaptação do espaço de vendas: se antes a maioria das compras ocorriam na sede das galerias ou em feiras, após o isolamento social o desenvolvimento de estratégias digitais se fez necessário a partir do aprimoramento de sites institucionais, investimento em marketing digital, desenvolvimento de viewing rooms, e participação em feiras online, marketplaces e plataformas digitais.
Deste modo, a realização da venda veio pelo contato online com clientes, visitas agendadas nas sedes das galerias e plataformas de vendas digitais.
As galerias brasileiras que mais sofreram com a crise gerada pelo Covid-19 foram as de maiores cifras, visto que são as que mais participam de grandes feiras e têm maior presença internacional. Já as pequenas, as quais trabalham com públicos em geral mais regionais e obras de valores mais baixos, foram as menos impactadas, e que, proporcionalmente, realizaram menos demissões na equipe.
Qual o perfil dos compradores de arte?
Segundo o relatório “The Art Market 2020” da UBS em parceria com a Art Basel, a maioria dos compradores têm entre 40 e 64 anos, ou seja, são Baby Boomers e da Geração X, e 64% são homens.
Mas o que chama atenção é que o número de colecionadores de arte abaixo dos 40 anos (Gerações Y e Z) foi de 6% em 2018 para 19% em 2019. Este público compra principalmente arte contemporânea (são 21% dos consumidores), visto que têm um foco principal na produção de sua própria faixa etária e que dialogam com o contexto mundial atual. Essas pessoas atuam principalmente no mercado financeiro ou de tecnologia.
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A geração acima de 65 anos, que são parte dos chamados Baby Boomers e da Geração Silenciosa, se destacam nas compras de arte moderna, representando quase 50% desse público.
Como de modo geral a arte moderna tem valor mais elevado que a contemporânea, é natural que o público consumidor seja aquele com maior poder aquisitivo.
É usada uma classificação generalizada para dividir as gerações de países ocidentais e servir de referência para estratégias de marketing e publicidade:
- Geração Perdida: nascidos entre 1883 e 1900, simbolizam os que lutaram na Primeira Guerra Mundial.
- Geração Grandiosa: nascidos entre 1901 e 1924, lutaram na Segunda Guerra Mundial.
- Geração Silenciosa: nascidos entre 1925 e 1945, alguns lutaram na Segunda Guerra Mundial e vários na Guerra da Coreia.
- Baby Boomers: nascidos entre 1946 e 1964, esse termo é usado devido ao boom de natalidade no pós-Segunda Guerra Mundial. São idealistas e combativos, porém mais resistentes às mudanças e priorizam a estabilidade e segurança. Concentram atualmente grande parte da riqueza mundial e do poder, tanto político quanto econômico
- Geração X: nascidos do início da década de 1960 até o final de 1970. Esse termo se refere a um grupo contestador, marcado pelo surgimento do movimento punk no Reino Unido. Carregam dos Baby Boomers a busca pela estabilidade, porém são mais céticos com autoridades, individualistas e competitivos. Por isso, muitos se destacam como autônomos. Embora não tenham a riqueza da geração anterior, apresentam alto poder de consumo.
- Millenials/ Geração Y: nascidos do início da década de 1980 até meados de 1990, esse grupo cresceu em ambientes de muito materialismo, urbanização e globalização. Foi a última geração a conhecer o mundo sem internet, e, por terem presenciado a ascensão dela e seu forte impacto na transformação das relações, são muito flexíveis às mudanças, questionadores, não se importam tanto com a estabilidade, prezam a sustentabilidade, são imediatistas e tendem a ser ansiosos. É uma geração muito dinâmica que se tornou referência para as outras, e, justamente por isso, tem alta influência no consumo e na decisão de compra dos demais. Trata-se da maior parte da população economicamente ativa no Brasil
- Zoomers/ Geração Z: nascidos de meados da década de 1990 até o início dos anos 2010, cresceram em meio a um rápido desenvolvimento tecnológico, especialmente da web, que se caracterizou também por um período de grande desigualdade social e pelo surgimento de movimentos questionadores do sistema. São considerados nativos digitais, multitarefas, ágeis, se preocupam com questões sociais e ambientais, transformando-as em ativismo. Deste modo, criam muitos movimentos online conseguindo trazê-los também para o âmbito presencial. Por crescerem num mundo tão volátil, têm forte senso crítico, uma identidade bastante fluida e inseguranças quanto ao futuro.
- Alfa: são/serão os nascidos do início dos anos 2010 até meados da década de 2020. Seu desenvolvimento está e continuará acontecendo em meio à recessão econômica no Brasil, assim como em um ambiente de polarização e extremismo ideológico. Por isso, serão ainda mais militantes e contestadores que a Geração Z. Estudiosos de tendências apontam que a geração alfa irá crescer em um mundo onde a tecnologia já será naturalizada e que verão o aumento progressivo da presença da inteligência artificial no dia-a-dia.
Quem são os novos colecionadores?
Em 2020, apesar de terem ocorrido pouquíssimas feiras de arte presenciais – espaços que serviam até então como um lugar de aproximação e familiarização de novos colecionadores com o mercado da arte-, o público interessado em adquirir obras de arte na faixa etária de até 40 anos só cresceu.
Isso se deve tanto a uma permanência mais prolongada em casa, quanto à maior facilidade e hábito dos mais jovens em comprar de forma online, tipologia de transação que se tornou a mais difusa em tempos de isolamento social.
Pensando no impacto deste perfil de comprador no mercado de arte, podemos destacar que este público de jovens adultos tem objetivos variados na aquisição, indo desde a construção de coleções de obras de arte que apreciam, até a compra como um investimento a longo prazo. Mas existe um ponto que apresentam em comum: a valorização de artistas de sua geração e de minorias, devido à uma maior sensibilidade às questões contemporâneas.
Com isso, percebe-se uma oportunidade para muitos artistas jovens e galerias menores ampliarem suas atividades neste mercado, tanto no Brasil quanto no mundialmente.
A questão que fica é: será que com a volta das feiras presenciais as Gerações Y e Z continuarão marcando presença substancial na aquisição de obras de arte?
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