O isolamento social devido a pandemia do coronavírus, que teve início em meados de março de 2020, modificou inúmeros aspectos da vida cotidiana, principalmente o entretenimento.
Se antes parte do nosso lazer se dava com uma ida ao cinema, um passeio no parque, uma visita a um museu, uma peça à noite e outras infinidades de possibilidades, de repente nos vimos diante da pergunta “como consumir arte a distância?”
Essa reflexão impactou tanto quem consome quanto quem faz e, justamente por essa inquietação, somada à necessidade de sobrevivência, muitos artistas se deslocaram para as plataformas online, apostando nestas como principal meio de comunicação e engajamento com o público.
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As mídias que antes, para muitos artistas, se resumiam em conteúdos mais genéricos e sobre a vida pessoal, viraram espaços profissionais: trabalho, exposição e conexão foram palavras-chave durante esse período.
Desta forma, as galerias virtuais e os perfis profissionais de artistas se tornaram, definitivamente, uma forte opção de programação cultural, ao lado dos streamings, por exemplo.
Restrição da arte ou expansão do setor?
É importante pensar que esse movimento não é apenas temporário e que esse ajuste na forma de produção cultural pode se estabelecer a longo prazo como mais uma maneira de transformação do acesso e da comunicação da cultura com a sociedade.
Como exemplo, podemos citar a inclusão da perspectiva do marketing digital para artistas independentes, que não oferece apenas um novo meio, mas se propõe como uma nova experiência artística.
E por que isso acontece? Porque o digital trouxe maior proximidade entre o produtor e o consumidor: há menos distância entre o artista e seu público, é possível enviar mensagens, comentários, e-mails, dúvidas, sugestões, críticas e elogios de forma mais direta e pessoal, abre-se portanto, um canal direto de diálogo, o que renova completamente o fazer, o criar, o compartilhar e o espaço da troca não é mais mediado por uma instituição, mas pela internet e tudo que ela oferece e propõe quanto a inovação e diferenciação, criação vídeos descontraídos, layouts articulados, filtros, agilidade e disseminação.
O aumento dos perfis virtuais artísticos nas redes sociais, pode ser visto como uma ferramenta de descentralização da arte dos grandes museus e funciona como uma tentativa autônoma de existência, com uma maior liberdade de temas, de fluxo de peças e apresentações e de tempo expositivo, garantindo uma diversificação na forma de acesso por parte do público ao trabalho do artista, já que agora não há necessidade do deslocamento até as galerias e museus.
Ainda nessa linha de pensamento, outras demandas podem emergir dessa variedade de público: novas perspectivas de consumo cultural, apresentação de referências, bagagens, frequência de consumo, empatia, identificação, reflexões polêmicas, entre outras.
Outra ação que ganhou força foram as movimentações coletivas, ou seja, a organização de vários artistas e agentes do mercado cultural para criar uma rede de apoio. Entre os exemplos, podemos citar o “Projeto Quarentine”, coordenado por Lais Myrrha, Marilá Dardot, Cristiana Tejo e Julia Morelli, que foi organizado e realizado durante três meses.
Este projeto reuniu diversos trabalhos que foram vendidos por um preço único e todo o dinheiro foi repartido igualmente entre os colaboradores e um desdobramento dessa mobilização foi a ação social feita com a criação de uma cota extra doada ao fundo emergencial de ajuda às pessoas trans afetadas pela pandemia. Iniciativas como esta, nos faz refletir sobre a função da arte na sociedade, não apenas um fim em si própria, mas capaz de gerar outros impactos, capaz de captar recursos, verba e promover mudanças.
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Continuando as ações conjuntas, temos o “Pa.art.ilha” em que cada compra efetuada no mês de maio de 2020 gerou um crédito de igual valor que posteriormente poderia ser usado em outra compra na galeria, o intuito aqui foi estabelecer uma sinergia com colecionadores, instituições e startups interessadas em fortalecer o mercado artístico.
Ambas as iniciativas descritas brevemente acima, demonstram a potência do próprio setor de se organizar e propagar o mercado de arte diante do enfraquecimento das relações perante a pandemia, além de conseguirem manter os artistas incentivados e darem continuidade ao seu processo criativo.
A apropriação de forma individual dos perfis de redes sociais para venda e divulgação do trabalho, também se estabelece como um manifesto na direção do fomento artístico e aproximação dos próprios artistas com as ferramentas tecnológicas do nosso tempo, possibilita que essas ações se potencializem.
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Continuar produzindo em tempos de crises provocou mudanças e nos alertou sobre novas perspectivas aos atuantes do mercado cultural, aos agentes do mercado da arte, principalmente, no que tange ao potencial criado a partir da união da classe artística e o conhecimento dos dispositivos e ferramentas de marketing digital.
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