A fotografia é uma linguagem artística que consegue se estabelecer tanto em um âmbito íntimo – capturando momentos individuais, trazendo um caráter de nostalgia, de possibilidade de revisitar lugares e pessoas que foram importantes para nós – quanto em um plano social e coletivo.

Afinal, quantas fotos não são capazes de contar a história da humanidade? De expressar os pensamentos e as ideias de uma época? De questionar verdades absolutas e propor discussões?

Assim, o trabalho do artista a partir da captura de imagens, essas pequenas frações da vida, é essencial para termos um olhar mais apurado da nossa existência. Também é por meio das fotos que podemos mapear as lutas, as conquistas, as reivindicações e a apreciar a beleza das experimentações e da criatividade.

Na ArtCult gostamos de enfatizar a poderosa ferramenta da comunicação, que pode ser estruturada de várias maneiras e atuar em diferentes modos na sociedade, por exemplo, quando falamos em comunicação nas redes sociais, mas aqui, estamos considerando a arte e a cultura em sua forma pura e percebendo o valor simbólico do diálogo e da relação.

A fotografia nos conecta a determinados momentos históricos, personalidades, estilos de vida e sonhos, por isso ela adquire múltiplas funções, social, educativa, política, e definitivamente, transformadora. Para pensarmos como o exercício de uma arte pode estabelecer pontos de mudança e de reinvenção do olhar, falaremos da fotógrafa Grete Stern.

Grete Stern: A artista das fotomontagens

 

Mulher com câmera fotográfica na mão fotografando

 

Grete Stern nasceu em 1904 na Alemanha e começou sua formação nas artes gráficas em 1923, com ainda 19 anos, na escola de arte Kunstgewerbeschule am Weißenhof de Stuttgart. Depois disso, foi aluna de Walter Peterhans, responsável pelo primeiro curso de fotografia na Bauhaus e logo em seguida conheceu Ellen Auerbach, firmando uma parceria e fundando em Berlim o estúdio fotográfico “Ringl + pit”.

A ascensão de Hitler ao poder acabou fazendo com que o estúdio fosse fechado, assim Grete e Ellen se exilaram em Londres. Lá, dão continuidade aos trabalhos e seguiram tendo sucesso com suas produções, fazendo retratos de figuras marcantes como Bertolt Brecht e Helene Weigel, ambos do teatro.

Por volta de 1936, Grete Stern vai para Buenos Aires junto de seu parceiro Coppola, e expõe obras no salão do magazine literário vanguardista “SUR.” Em 1947 fotografa para uma revista de arquitetura e contribui no planejamento urbano da cidade. Em 1948, a artista é convidada a ilustrar uma coluna de interpretação dos sonhos da revista feminina “Idílio” e é neste espaço em que suas fotomontagens se destacam.

Esse trabalho que Stern realizou a fazer na revista Idílio foi em diálogo com a coluna “A Psicanálise te Ajudará”, em que psicanalistas respondiam cartas dos leitores, em grande parte mulheres, sobre seus sonhos e pesadelos, tendo como base os estudos de Freud. Dessa forma, a artista materializava o universo onírico e imaginativo dessas leitoras e as análises profissionais através de sobreposições, colagens e montagens.

As fotomontagens traziam em si traços do expressionismo, do dadaísmo e do surrealismo e se relacionavam de maneira contrária a sociedade machista argentina, dando corpo e crítica a maneira como as mulheres se sentiam: objetificadas, presas e obrigadas a se adequar a um padrão de feminilidade.

Em 1964, Grete Stern, por meio de uma bolsa do Fundo Nacional de las Artes, documentou os indígenas do Gran Chaco, expondo a situação de pobreza em que as comunidades se encontravam. Os retratos em preto e branco são sensíveis, superando qualquer possibilidade de leitura exótica dos habitantes daquele território. A série intitulada “Aborígenes del Gran Chaco”, conta com cerca de 1 500 fotos e é considerada umas das maiores documentações sociais da história da Argentina.

É notável, portanto, a importância do trabalho da artista e o poder da arte em interferir na vida, traçando paralelos, revelando problemas e propondo novas abordagens. A grande mensagem que podemos tirar desse exemplo é que toda produção artística e cultural gera um impacto e transmite uma mensagem, então é preciso que você saiba o que você faz, como e por que, para assim, atingir o máximo potencial do seu projeto profissional.

Na ArtCult queremos que você vá mais longe e deixe um legado para o mundo.

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