Breve biografia de Glauber Rocha
Glauber Rocha foi um grande cineasta brasileiro, muito conhecido pela sua liderança no movimento intitulado “Cinema Novo”, que atuava criticando a desigualdade social no Brasil nos anos de 1960 e 1970.
O Cinema Novo foi influenciado pelo neorrealismo italiano e pela Nouvelle Vague francesa, as produções cinematográficas que começavam a despontar contrastavam com o tradicional cinema brasileiro que até então vinha sido realizado, como musicais e comédias de caráter “hollywoodiano”.
O cineasta nasceu dia 14 de março de 1938 na Bahia. Em 1957, ingressou na faculdade de direito e durante a graduação começou uma série de filmagens e experimentos, gravou seu primeiro filme curta-metragem, chamadoPátio, de 1959, e pouco tempo depois, abandonou o curso de direito para iniciar sua trajetória como jornalista e crítico de cinema.
Deus e o Diabo na Terra do Sol de 1963, Terra em Transe de 1967 e O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro de 1969, são grandes filmes que marcam a carreira do artista.
O primeiro, em novembro de 2015 entrou na lista feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos e foi a escolha oficial do governo brasileiro para representar o país no Festival de Cannes de 1964. O segundo, recebeu prêmios e indicações como:
- Festival de Cannes 1967 na França: os prêmios de Luis Buñuel e Fipresci no XX
- Festival; Festival de Havana 1967 em Cuba: prêmio da Crítica e o de Melhor Filme;
- Festival de Locarno 1967 na Suíça: prêmio Grand Prix do júri paralelo.
E, por fim, o terceiro, O Dragão Da Maldade Contra O Santo Guerreiro, recebeu em 1969 o prêmio de Melhor Direção no Festival de Cannes.
É perceptível, portanto, o reconhecimento internacional que Glauber Rocha conseguiu por seu trabalho que servia à cultura brasileira, expondo a miséria, as alegorias políticas e religiosas, explorando a complexidade de se viver no país e se utilizando de recursos como montagem descontínua, improviso, teatralização e câmera na mão.
Glauber Rocha e Di Cavalcanti
Di Cavalcanti foi um pintor modernista, muito conhecido por buscar em suas obras o caráter popular do Brasil, representando em seus quadros, o samba, os operários e o carnaval, nascido no Rio de Janeiro, veio a falecer em 1976 com 79 anos. Assim que soube da morte de Di Cavalcanti, Glauber Rocha quis homenagear o artista, dada a sua trajetória de sucesso e sua importância para a arte brasileira.
Para fazer o tributo, Glauber reuniu uma equipe de filmagem e se dirigiu ao Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro onde seria o velório e depois para o cemitério São João Batista, lugar de enterro do pintor, o intuito era conseguir imagens desse momento e registrar ao máximo a partida. A situação acabou gerando desconforto nos familiares.
Após a captação de imagens, Glauber Rocha fez uma narração eloquente, montando um discurso que misturava dados biográficos e artísticos de Di Cavalcanti, poemas de autoria do cineasta e de poetas como Augusto dos Anjos e Vinícius de Moraes, além de críticas à ditadura militar.
Após finalizado, em 1977, o filme ganha um novo título ou uma espécie de subtítulo “Ninguém Assistirá ao Formidável Enterro da Tua Última Quimera, Somente a Ingratidão, Aquela Pantera, Foi Sua Companheira Inseparável”.
Segundo informações, um manifesto foi entregue na sessão de 11 de março de 1977 apresentada na Cinemateca do MAM do Rio de Janeiro, em que o cineasta justifica seu ato: “Filmar meu amigo Di morto é um ato de humor modernista-surrealista que se permite entre artistas renascentes: Fênix/Di nunca morreu. No caso, o filme é uma celebração que liberta o morto de sua hipócrita-trágica condição”.
A partir dessa declaração, podemos compreender que o campo artístico é muito amplo, e que a criatividade não tem limites, afinal o que vemos é um artista a partir da sua linguagem, dos seus ideais e crenças, mostrando admiração por outro artista de uma linguagem distinta, com uma trajetória diferente.
O que acontece no encontro de duas artes? Qual o choque desses dois universos? Como a produção artística permeia nossas vidas e parcerias? Essas questões são muito poderosas e servem para refletirmos!
Voltando a história, o documentário recebeu o Prêmio de Melhor Curta-metragem no Festival Internacional de Cannes de 1977, mas nacionalmente, logo depois da primeira sessão de exibição na Cinemateca, a filha adotiva do pintor, Elizabeth Di Cavalcanti, entrou na Justiça para proibir a exibição do curta, então a programação de 1979 para circulação do filme no Brasil foi censurada.
Alguns debates aconteceram em torno dessa questão e versões pirateadas foram distribuídas.
Finalmente, em 2004, um sobrinho de Glauber Rocha postou o curta na internet. A publicação repercutiu devido à explosão do YouTube e a popularização da plataforma no quesito acesso a filmes e outros conteúdos audiovisuais.
Em suma, apesar de controversa a situação, um diálogo entre dois artistas foi criado, o cinema como arte se relacionando com a vida e a biografia de um pintor, propondo rupturas no modo de fazer, expondo a crueza da vida e da morte e provocando no público e nos críticos de arte, diferentes interpretações.
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