Hoje continuamos nossa série sobre movimentos artísticos modernistas. Já falamos aqui sobre o Impressionismo e o Pós-Impressionismo, e hoje discutiremos o Expressionismo.

O cenário europeu no início do século XX era de constantes transformações, industrialização, urbanização e surgimento de novas tecnologias. Por isso, era uma época de incertezas e questionamentos. No campo da ciência e da intelectualidade, se destacavam Albert Einstein, com a teoria da relatividade, e Sigmund Freud, o criador da psicanálise.

O Expressionismo surgiu na Alemanha no ano de 1905, quando o grupo Die Brücke, que significa A Ponte, foi criado pelos artistas Ernst Kirchner,Karl Schmidt-Rottluff, Erich Heckel e Fritz Bleyl. Eles constituíram o que é chamado atualmente de Expressionismo alemão. Houve também o grupo Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul), que surgiu em 1911 em Munique e tinha entre seus membros nomes como Wassily Kandinsky e Paul Klee.

Em 1911 surgiu a denominação “Expressionismo” na revista Der Sturm(A Tempestade), que era o principal meio de comunicação deste movimento. Em 1918 foi divulgado o Manifesto Expressionista, assinado por Kasimir Edschmid, que definia a estética expressionista como resultado da experiência do artista na busca de algo novo.

O movimento, assim como seus precedentes, questiona a arte acadêmica, porém rompe também com o Impressionismo, o qual captava a realidade com um caráter mais técnico, em detrimento com a subjetividade, a complexidade, os sentimentos e a irracionalidade humanas valorizadas pelo Expressionismo. Por esse motivo, o pintor pós-impressionista Vincent van Gogh é considerado precursor deste movimento.

Outras características comuns aos pintores expressionistas são:

  • expressão de sentimentos e emoções, principalmente os negativos
  • valorização da intuição e do irracional
  • valorização da subjetividade em detrimento da objetividade
  • representação da angústia e do medo
  • temática subversiva e introspectiva
  • distorção da realidade
  • uso intenso e contrastante de cores
  • técnica de pintura de grossas e violentas camadas de tinta

Principais Artistas

Edvard Munch (1863-1944): o pintor norueguês é criador do quadro símbolo do Expressionismo, “O Grito”. Começou a pintar na década de 1880, e, em, Paris, teve contato e grande influência de Toulouse-Lautrec, Paul Gauguin e Vincent van Gogh. Em 1892, Munch realizou uma exposição em Berlim que foi cancelada uma semana após a abertura devido ao choque que suas obras causaram nos críticos de arte e no público.

Em 1896 começou a utilizar também técnicas de litografia e xilogravura, e, em 1908, retornou à Noruega, onde morou até seu falecimento. Nos seus últimos anos de vida teve uma doença nos olhos que dificultou seu trabalho como artista, e, na mesma época, os nazistas classificaram sua arte como degenerada.

Obra de arte Edvard Munch, um homem em pé nu

Amadeo Modigliani(1884-1920): natural da Itália, esse pintor desenvolveu sua carreira em Paris influenciado não só pelo Expressionismo, mas também pelo Simbolismo e Maneirismo. Seu trabalho se caracterizou pelo contorno de linhas fluidas que representavam paisagens, retratos ou nus de grande introspecção psicológica e com ar melancólico. Foi também escultor, influenciado por Brancusi e pela arte africana presente em Paris.

Obra de arte Cigana com Menino no colo

Paul Klee (1879-1940): o pintor suíço tinha um estilo único que transitava entre o Expressionismo, Abstracionismo, Cubismo, Surrealismo e Futurismo. Trabalhava com diversos materiais como tinta a óleo, aquarela e papel-cartão, e realizava combinações inusitadas em suas obras, como óleo com aquarela. Quando conheceu Picasso e Delaunay, em 1912, passou a se interessar mais pela cor e composição, o que o levou a posteriormente ter grande domínio de cores e tonalidades. Isso pode ser notado em seus trabalhos, junto ao uso de formas geométricas, letras, números, signos e figuras.

Obra de arte do artista Paul Klee

Georges Rouault (1871-1958): este pintor francês integrou tanto o Expressionismo quanto o Simbolismo e o Fauvismo. Suas obras expressionistas tinham críticas sociais e morais, além de retratar prostitutas, trabalhadores circenses e temáticas cristãs. Optava comumente pelo uso de guache e aquarela em tons escuros com as tintas salpicadas, criando camadas superpostas e linhas quebradas.

Obra de arte do artista Georges Rouault

Wassily Kandinsky(1866-1944): o artista russo passou a se dedicar à pintura após ir a uma exposição impressionista, em 1895. Na primeira década do século XX seguiu o movimento fauvista durante alguns anos. Depois, perdeu o aspecto figurativo e ganhou cores, aderindo ao Expressionismo e, gradualmente, à abstração. Sua obra passou a ser, então, centrada na cor e na forma, com foco no centro da tela.

O próprio artista dividiu sua obra em “impressões”, que foi seu estilo fauvista até 1910; “improvisações”, que foi o estilo expressionista abstrato de 1910 a 1921; e “composições”, a partir de 1921 e que marca as obras mais famosas do pintor. Kandinsky foi o primeiro pintor ocidental a produzir abstração, e, por isso, alguns o consideram o precursor do Expressionismo Abstrato. Junto a Mondrian e Malevich, forma o que é chamado de “trio sagrado da abstração”.

Obra de arte do artista Wassilt Kandinsky, paisagem com uma árvore

Artistas Expressionistas Brasileiros

O Brasil também teve artistas mundialmente importantes para o Expressionismo: Cândido Portinari (1903-1962) retratava muito a temática nacional, porém se destacou principalmente pela representação de temáticas sociais, como a fome e a pobreza retratadas em “Retirantes”.

Anita Malfatti (1889-1964) conheceu o Expressionismo em 1910, quando visitou a Alemanha e teve contato com o grupo Die Brücke. É considerada a primeira representante do modernismo brasileiro e fez parte da Semana de Arte Moderna de 1922.

Lasar Segall (1891-1957) foi um artista natural da Lituânia que se mudou para o Brasil em 1923 e teve influência de Jozef Israël e Paul Cézanne. No país, suas obras apresentavam muita luz e cores tropicais, e temáticas de favelas, paisagens e pessoas negras.

Obra de arte do artista Cândido Portinari, Os Retirantes

O movimento durou, aproximadamente, até a década de 1920, e, por isso, foi também influenciado pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que trouxe um cenário caótico e dramático à Europa.

Na Alemanha, que foi derrotada na guerra e ficou em estado de extrema pobreza e miséria, o impacto foi ainda maior; o caos nacional permitiu a ascenção do partido nazista, o qual, posteriormente, realizou a destruição em massa de obras de arte moderna ao intitulá-las como “degeneradas”.

O Expressionismo foi o primeiro movimento no qual o sentimento do artista fez parte da obra; a temática, muitas vezes influenciada por momentos históricos e a miséria, foi retratada com muitas cores e pinceladas abruptas. Este movimento serviu de base para o Expressionismo Abstrato de Jackson Pollock, e, indiretamente, para diversos artistas contemporâneos.

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