Dando continuidade a nossa série de posts sobre movimentos artísticos, hoje vamos falar do Pós-Impressionismo. Você conhece esse movimento e sabe quais são seus principais artistas?
O que foi o Pós-Impressionismo?
Considerado uma transição do Impressionismo para o Expressionismo, o Pós-Impressionismo durou aproximadamente de 1886, ano da última exposição impressionista, quando Seurat expôs Um Domingo de Verão na Grande Jatte, a 1907, quando surgiu o Cubismo.
O termo “Pós-Impressionismo” foi cunhado pelo crítico de arte Roger Eliot Fry em 1910 após visitar uma exposição na Grafton Galleries, em Londres, que tinha pinturas de Van Gogh, Gauguin e Cézanne.
Entretanto, assim como o Impressionismo, o palco maior deste movimento foi a França, onde em 1886 Gustave Eiffel ganhou um concurso para construção de um monumento homenageando o centenário da Revolução Francesa: a Torre Eiffel. Ela fez parte da Exposição Universal de 1889, e sua estética, considerada pesada, simples e industrial, foi bem aceita por diversos artistas pós-impressionistas.
Além disso, foram expostos diversos elementos da cultura oriental considerados exóticos na época, como danças japonesas, as quais encantaram e influenciaram posteriormente o trabalho de Gauguin.
É importante ressaltar que os trabalhos dos pós-impressionistas apresentam uma grande heterogeneidade de pintor para pintor, visto que eles se reuniam pouco e tinham opiniões distintas.
De fato, o único ponto em comum entre eles é aproveitar o legado do Impressionismo, e, por isso, não serem aceitos nos grandes salões e nem pela Academia.
Apesar da heterogeneidade, algumas características são comuns nos trabalhos dos integrantes deste movimento, como o rompimento com parte da estética Impressionista: enquanto os impressionistas valorizavam elementos técnicos, a reprodução da realidade, a captura do momento, a luz natural e os efeitos de luz e sombra, os pós-impressionistas tinham um lado mais sentimental, subjetivo, simbólico e expressivo, além de dividirem os tons nas suas componentes fundamentais, criando um jogo de contrastes de luz e sombra com base na lei das cores complementares.
Um dos resultados mais famosos deste jogo é o pontilhismo, no qual pequenos pontos de cores são recompostos pelo olhar do observador numa unicidade do tom.
Outras características comuns aos pós-impressionistas são:
- valorização da bidimensionalidade e não da perspectiva
- liberdade cromática
- utilização de temáticas do cotidiano, cenas políticas e sociais
- valorização da luminosidade, textura e estrutura.
Os artistas mais prestigiados do Pós-Impressionismo podem ser divididos em dois grupos: Gauguin, Van Gogh e Toulouse-Lautrec, os quais enfatizavam emoções e sensações a partir de jogos de cor e luz; e Cézanne, Seurat, Signac e Cross, que apresentavam desenhos formais, considerados quase científicos.
Abaixo falamos um pouco sobre cada um destes artistas.
Principais Artistas
Paul Gauguin (1848–1903): começou a pintar em 1873, após ser corretor de valores e colecionador de arte em Paris por mais de uma década. Em 1888, dividiu um estúdio em Arles com van Gogh, e na mesma época desenvolveu a teoria do sintetismo, na qual os sentimentos eram valorizados e a estética era definida pela forma pura.
Por isso, Gauguin buscava o que ele chamava de “instinto selvagem”, empregando linhas bem marcadas, bidimensionalidade e cores puras. Pode-se afirmar que seu grande rompimento ocorreu ao não usar um jogo de luz e sombra, e na distorção das formas, o que quebra a reprodução fiel do que o pintor vê na pintura.
Em 1893 se mudou para o Taiti, país que inspirou muito suas últimas pinturas e a criação de esculturas em madeira e xilogravuras.
Vincent van Gogh (1853–1890): este pintor holandês pintou somente nos seus últimos 10 anos de vida e vendeu apenas uma obra em vida. Porém, isso não impediu que se tornasse um dos pintores mais importantes da história da arte.
No início de sua carreira pintava com cores sombrias a vida da classe trabalhadora e o realismo social; já a partir de 1886, quando foi para Paris e conheceu artistas impressionistas, passou a pintar mais paisagens, cores saturadas e pinceladas interrompidas, visto que para ele era a cor, e não a forma, que demonstrava a expressividade da sua obra.
Porém, com o rompimento, expressava suas emoções e acrescentava movimento e ritmo de modo gráfico, como é possível notar em uma de suas mais famosas obras, “A Noite Estrelada”. Esta pintura retrata a vista antes do nascer do sol da janela de seu quarto no hospício de Saint-Rémy-de-Provence no qual se internou após cortar sua orelha esquerda em 1888. O vilarejo representado foi idealizado pelo artista.
Henri de Toulouse-Lautrec (1864–1901): dotado de uma visão quase fotográfica da vida contemporânea, Toulouse-Lautrec retratava na maioria das suas pinturas cenas de movimento noturnas no interior de vários locais, como teatros, salões e circos, sempre iluminados por uma luz forte e artificial.
Muito influenciado pelas gravuras japonesas, suas composições eram assimétricas, e ele foi um dos responsáveis por tornar as artes gráficas, como litografia e cartaz, respeitáveis frente ao meio artístico.
Paul Cézanne (1839–1906): Cézanne pode ser considerado o primeiro artista a caminhar rumo à pintura abstrata. Isso porque, ao contrário dos seus contemporâneos, se baseava em pesquisas metódicas e queria uma pintura que apelasse para a mente e a consciência, não para a visão.
Com isso, retratava a realidade utilizando elementos geométricos simples, principalmente para paisagens. Também explorava retratos e naturezas-mortas, sendo que, na segunda, lançava mão de cores complementares e composições densas.
Georges Seurat (1859–1891): apaixonado pela ordem e permanência, foi um grande entusiasta do pontilhismo, técnica na qual não misturava as cores, mas as dispunha lado a lado para que o olho do espectador as misturasse.
Um de seus quadros mais conhecidos é “Uma Tarde de Domingo na Grande Jatte”, o qual, apesar de utilizar a mesma temática dos impressionistas, representa uma quebra na técnica artística utilizada, visto que o pontilhismo é muito diferente de uma impressão do momento.
Paul Signac (1863-1935): junto a Seurat foi o precursor do pontilhismo. O artista francês estudou arquitetura, mas desistiu da carreira após conhecer o trabalho de Monet e se identificar com a carreira artística
Além do pontilhismo, o pintor usava muitas cores primárias de modo a criar efeitos de luz na pintura. Seu trabalho foi muito influenciado pela região de Saint-Tropez, repleta de barcos e paisagens.
Henri-Edmond Cross (1856-1910): no seu início de carreira era inspirado pelas cores escuras do Realismo, porém após conhecer Signac em 1883 começou a gradualmente mudar seu estilo, passando a adotar uma paleta de cores mais claras e brilhantes, seguindo o Impressionismo.
Foi somente em 1891 que o pintor começou a seguir o Pós-Impressionismo, utilizando, principalmente, a técnica do pontilhismo. A partir de 1901, após se mudar para a região de Côte d’Azur, passou a usar marcas de pincel longas e seguir padrões decorativos de mosaico.
Pós-Impressionismo e Mercado
O principal galerista de artistas pós-impressionistas foi o francês Ambroise Vollard (1866-1939). A primeira grande exposição de sua galeria foi de 150 obras de Cézanne, em 1895, e Vollard foi o responsável pela primeira grande exposição de Gauguin, e foi essencial para que, após a morte de van Gogh, seus trabalhos continuassem a circular em exposições e fossem vistos pelo público.
Organizou, ainda, a primeira exposição de Picasso em Paris, em 1901, e a primeira de Matisse, em 1904. Por isso, o galerista ficou conhecido como uma referência da vanguarda em Paris.
Vollard ficou conhecido no mundo da arte por comprar uma grande quantidade de obras a baixo custo e vender com grande lucro, além de publicar biografias de artistas como Cézanne, Degas e Renoir, o que auxiliou na construção da reputação deles.
O movimento Pós-Impressionista pode não estar entre os mais aclamados pelo público, porém foi essencial para o surgimento das diversas vanguardas posteriores, e, inclusive, para a arte contemporânea.
Seus principais artistas influenciaram os movimentos artísticos posteriores: Cézanne, com suas formas geométricas, é a raiz do cubismo, e por isso influenciou Picasso, Braque e Matisse; Gauguin influenciou o Simbolismo, principalmente Les Nabis; Cross influenciou o Fauvismo de Matisse e Derain; já van Gogh tem grande influência no movimento expressionista e é o mais famoso dos pós-impressionistas.
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